quarta-feira, 11 de março de 2009

Os detalhes, às vezes, me escapam...

O tempo do abraço

Mãos e escápulas

Cheiro da pele

O olhar mudo, risonho.

A ansiedade pelo beijo é tanta

Que cada frame passa voando

Incontrolável, imperceptível.

Quando a pulsação volta ao normal

Busco na memória as sensações

Os sabores, temperatura, textura.

E estes detalhes saltam aos olhos

Transbordam pela pele.

Tudo passa quadro a quadro

Num minúsculo intervalo

domingo, 1 de março de 2009

Uma visão I



Tive uma visão.

Uma visão que nasceu de uma alucinação concreta

Tudo devia ser de mentira, mas de mentira só restou minha inocência.

Meu sonho sentiu-se alimentado, ao ver, ao lado, um corpo em repouso.

Era tudo tão perfeito!

A luz, o cobertor, um corpo.... uma alma pairando...

Tudo parou... estagnou...

Meu peito ficou quente, como se algo ocupasse um lugar dantes vazio.

Era você ali, ocupando o espaço que é seu por direito.

Mergulhei de cabeça naquele mar.

O cheiro do sal trazia algo de muito bom,

A areia branca trouxe sossego...

Armei minha rede, e ali fiquei

Sem pressa de ir embora,

Sem vontade de saber por onde andava,

Sem me preocupar se ainda era hora.

Fiquei...

Sempre admirando você ao meu lado.

Sempre sentindo sua brisa me tocando.

Sempre observando cada intervalo.

E assim fiquei...

RETALHOS...


O mundo não cabe na minha cama

O mundo pesa, e minha cama não agüenta

Uma necessidade de ostra que não me faz pérola, nem bela...

Despe meus olhos, me percebo no meio da rua,

Debaixo da chuva

Contra o tempo... contra tempo... encontro um tempo

Muitas vezes me vejo do lado de fora

Fora do tempo, lento

Tem sido minha maior diversão

Já pensei em viajar, mudar de país

Usando um amuleto de estrelado anis,

Coisas diferentes das que já fiz

O que acontece entre quatro paredes,

Nem Sartre para descobrir

A noite, a dança é dos felizes

Dos gatos, dos safados....

Mulatos descolados, cabelos cacheados

Olhos marejados que olham o mundo

Este mesmo mundo que foge dos meus lençóis

Pra chegar depois, e ficarmos a sós, só nós.....

Pouco


Como ser nada, depois de tanta vida corrida pelas veias

Como ser nada, depois de tanto amor preso pelas teias

Como ser tão pouco, se este pouco ainda alimenta a muitos

Como ser tão morte, se esta morte é tão viva quanto meus uivos ruivos.

O Dramático


O mundo sabia de coisas, e eu não

O tempo pesou nos meus olhos, mas não no coração

Vesti figurinos novos, mas o palco desnudo

Pausou nossa deixa eterna, como num foco, um clarão.

Te vi chegando de mansinho,

Num quadrado azul, quietinho

Por fora homem, por dentro menino

E com um espelho de olhos verdinhos

Depois de um tempo,

Passado tempo,

No mar das lágrimas crescemos

E viramos pérolas, lindas

Almas em jóias, irmãs

Que sempre estarão unidas.


Fala


Um pouco de terra não basta

Um pouco de lata não tapa

Um pouco de vida não se dissipa

Um pouco de alma não cala

Brisa para Dois


Brisas que abençoam palavras
Que na liberdade desconfiguram-se em palavas
E estas em sentimentos, não mais malditos
Porque são somente palavas...
Palavas que surgem no céu da boca... e ficam lá...
Fazendo cócegas, dançando...
Algumas sobem...
Vão para o piso superior, transformar-se em elemento...
Outras descem um pouco, piso intermediário, tornando-se alimento...
Outras, ainda, talvez mais fugazes, ou talvez mais espertinhas
Escapam pela boca
E voam novamente... fazendo nascer outras palavas...
Em outras pracinhas...
As que encontram as pracinhas lá esperam,
Empoçam esperando o calor de um dia vivo
Para as mesmas evaporarem... e retornarem ao céu.
Lá dançarão mais um baile.
Mais uma valsa,
Mais um compasso..
E de uma dança, uma nova canção o pulmão se enche...
As palavras-palavas esperam... seu ápice está por vir.
Uma melodia flutua no ar,
Faz vibrar um coração.
A expectativa toma o salão,
Torna-se densa.
O ar quente possuia a sala,
Deixa a moça ruborizada.
Os pares se entreolham,
Se tocam,
Entrelaçam os olhares tão vivos
Tão ricos e cheios de expectativa.
As pálpebras se fecham... o calor aumenta
E as palavas, no seu frenesi
Vêem a luz.
A poesia torna-se concreta.


Elaine Eco e Felipe de Paula